Com a divulgação dos nomes dos envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras pela operação Lava Jato algo fica cada vez mais claro: a crise que o Brasil está enfrentando é algo sem precedentes.

A raiz de todos os nossos males está o fator político e o princípio da moralidade. A corrupção consiste num câncer maligno que afeta desde as macros até as micro estruturas deste país de dimensões continentais. O que está sendo refletido na economia e na sociedade de um modo geral encontra sua razão fundamental num modelo fracassado de democracia.

Possuímos um déficit histórico, nosso país demorou  despertar para as ideias republicanas e iluministas - fundamento da maioria dos sistemas políticos do ocidente -, quando essas ideias chegaram aqui foram mal aplicadas e interpretadas. A corrupção nos foi deixada por herança pelos portugueses que de forma tão nobre usurpou o quanto pôde de tudo o que tínhamos. Ser desonesto e tirar vantagem sobre tudo virou rotina na terra de Santa Cruz e virou hábito para o bom brasileiro. Somada às desigualdades econômicas, a corrupção converteu-se numa estratégia de sobrevivência para muita gente.

Uma política desvirtuada da sua finalidade é capaz de levar qualquer país a falência desencadeando desestabilização nos mais diversos setores. Costumo dizer que os momentos de crise expulsam o homem da sua zona de conforto e o instiga a buscar soluções para os problemas que ele mesmo criou. Não devemos ser ingênuos de esperar uma história pacífica, Karl Marx dizia que o conflito das classes antagônicas sempre existirá, é assim que se constrói a história dos povos.

Nicolau Maquiavel, filósofo italiano que viveu entre os séculos XV e XVI afirmou que os homens “são ingratos, volúveis, simuladores, covardes, ante os perigos e ávidos de lucro” (O Príncipe, capítulo XVII). Tratam-se de aspectos imutáveis da natureza humana. Claro que a crítica não perdoou o filósofo que foi bastante infeliz em vida por suas teorias, mas aplaudido postumamente. Contudo, ao analisar as palavras acima sentimos uma evidente correspondência com as ações do presente.

Platão, filósofo grego que viveu no século IV, em seu livro 'A República', descreve a alegoria da caverna como forma de ensinamento descrevendo como é a atitude dos que não saíram da caverna para com aquele que buscou se libertar das trevas da escuridão a qual estava submetido. Quem dissemina pensamentos que põe em risco a ordem e os princípios do dogma de uma sociedade deve ser morto! Estamos repletos de casos ilustrativos que não convêm citar.

A partir deste breve passeio pela história podemos iluminar as trevas do tempo presente e confirmar o fato da democracia ser algo estranho para muitos de nós. Temos uma preguiça notória de pensar, uma dificuldade cada vez mais crescente de conviver com a diversidade de opiniões, nosso povo não consegue desenvolver uma análise crítica da conjuntura à qual se encontra e, portanto, torna-se incapaz de fazer uma síntese dialética dos fatos que lhe são apresentados.

Por isso que não é difícil ver pessoas culpando os meios de comunicação (a imprensa no geral) por divulgar opiniões manipuladas. Concordo que a mídia no Brasil cria deuses e heróis, pode fazer alguém transpor o céu ao inferno com poucas palavras, que as grandes emissoras estão nas mãos de políticos e empresários que usam a aparelhagem para expressar suas tendências. Entretanto, algo precisa ser esclarecido: Não existe mídia neutra assim como não existe ser humano neutro, eles fazem jornalismo, você a sua opinião, é nisso que consiste a liberdade de imprensa, tão desejada nos tempos do regime militar. O que podemos esperar é uma imprensa que aborde os fatos com objetividade. Num país como o nosso que carece de educação de qualidade, os dados apontam que uma tímida parcela dos brasileiros adotam hábitos de leitura, A outra parte só dedica-se a futilidades. Como um indivíduo nestas condições será capaz de pensar além dos seus preconceitos, principalmente no tocante ao analfabetismo funcional?

Vejo que o maior feito que os políticos brasileiros operaram foi desmobilizar os movimentos sociais, hoje eles não expressam os anseios da população, e vou mais além, com uma simples pergunta: existe algum anseio político na população?

Não existe esquerda no país, esse esquerdismo de 'gogó' não passa de uma perfetta bravata. Ou de uma empolgação pautada em ideologias que não superam as 'eudeologias', não são capazes de pensar e responder o coletivo. Afinal, a luta é pelas individualidades.

Quanto ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff defendo que isso é diametralmente oposto ao princípio constitucional. Ela foi eleita por voto direto. Se ela criou todas estas tensões devido ao seu desgoverno, ela é que trate de resolver, até porque não temos ninguém na atual conjuntura do cenário político, com virtude moral exemplar para assumir o posto, seria o mesmo que trocar seis por meia dúzia. O povo tem o governo que merece, afirmou algum pensador por aí.

#prontofalei
Victor Silva, para o blog.