Por todos os lados estamos acossados de informações que nos surpreendem com a dramaticidade dos acontecimentos . A imprensa internacional não economiza nas matérias acerca da crise do povo palestino na faixa de gaza, a epidemia de Ebola nos países da África, a inauguração do templo de Salomão e a crise de identidade do bispo Universal (ora Bispo-pastor, ora um tipo de rabino ou Moisés na pós-modernidade). Uma verdadeira pantomima social, ninguém mais acredita em ninguém!

 A nossa mente passou de espaço de genialidade para virar depósito de uma realidade 'nua e crua' que não cessa de nos amedrontar e desfazer nossas seguranças instaurando um sentimento de medo, desesperança ou mesmo alienação diante de uma humanidade que caminha rumo ao seu colapso.

Recentemente, retomando algumas leituras filosóficas, encontrei umas anotações sobre Schopenhauer, que afirmou em 'A arte de insultar' o seguinte:
A espécie humana é destinada pela natureza à miséria e à decadência; ainda que o Estado e a história eliminassem a injustiça e a necessidade a ponto de permitirem o surgimento de uma vida repleta de deleites, os homens entrariam em conflito por tédio e atacariam uns aos outros, ou então a superpopulação provocaria a fome e esta os exterminaria.
A princípio as palavras do filósofo nos causa espanto, são secas e nada agradáveis para a nossa sensibilidade.
Um passeio pela história da humanidade nos permite constatar as fortes lutas de evolução do estado insurgente da primitividade humana, como é o caso das teorias jus naturais no século XVI e a constituição da ordem mediante a criação do Estado como forma de organização gerada pela cedência das liberdades individuais diante da noção de bem comum. A humanidade buscou superar suas misérias, suas contradições. A luta das classes pela instauração de uma sociedade mais organizada nas esferas políticas e econômicas foram acompanhadas por um intenso período de produções intelectuais que serviram de substrato e base para a organização até os dias de hoje.
Assim como na Idade Média, o século XX, na visão do historiador Erick Hobsbaw, considerado como a era dos extremos, foi uma época de crises acentuadas que oportunizaram um movimento dialético de construção de novos paradigmas.

Com a chegada do século XXI, uma nova era já estava sendo esperada pelos intelectuais, entretanto, com todo o avanço aguardado, as expectativas não eram as melhores. Já se previa a crise ambiental, a falência dos regimes democráticos e do próprio capitalismo, bem como do processo de fissura da própria natureza do homem.

Chegamos a um ponto importante: as pessoas no século XXI não precisariam de mais teorias para viver bem em sociedade, já temos o suficiente para viver como seres sociais,' uma prova disso são as inúmeras teses e publicações ligadas aos temas das humanidades universais que nada mais são que reproduções sistemáticas do passado aplicadas à luz da contemporaneidade. Somos uma geração que está  bem servida de ideias, capazes de nortear a nossa existência, só precisamos superar o abismo existente entre a teoria e a práxis, típico da nossa cultura ocidental. Deveríamos, nesta fase,  usufruir de uma qualidade de vida considerável, contudo a coisa não aconteceu como deveria.

O homem contemporâneo adotou posturas desnorteantes frente às inúmeras interpretações da história, da sociedade, da política, da ética, das economias, dos regimes... etc. O que quero dizer é que a nossa geração não está sabendo gerenciar a quantidade de conhecimento em questão, acabando por legitimar esse estado de liquidez dos próprios valores subsidiários da identidade humana.

A globalização, tão louvada na primeira metade do século XX, hoje transformou a cultura e a sociedade em um verdadeiro depósito de isolados, exilados, ou alienados, colocado contra o pano de fundo da multidão ou da metrópole anônima e impessoal, como afirma Hall (2005).

Percebemos uma diminuição do respeito e do próprio reconhecimento do princípio da legitimidade dos papéis sociais representativos. O princípio da liderança não encontra porto seguro, deixa de ser referência de mobilização e passa a ser subjugado. A família foi dissolvida e a figura dos líderes parentais assumem pouca relevância, assim como a personalidade de chefes de Estado, representantes dos três poderes, em suas várias esferas, líderes religiosos... tudo parece ter sido dissolvido e destituídos de respeito pelos demais.

 Ninguém mais respeita ninguém! As profissões assumiram um novo paradigma de valor: São mais importantes as que conferem maior status social econômico devido a uma remuneração mais elevada, as demais atividades são secundárias, terciárias, quaternárias, ou mesmo triviais. A educação (principalmente a ligada à inciativa privada) é reprodutora dessa ideia segregaria assim como a escola pública é reprodutora da ideologia do Estado liberal.

A religião, abandonada por uns ou mesmo exacerbada por outros, tornou-se em uma faca de dois gumes: por uma lado, continua sendo uma instituição social eficaz na transmissão dos valores da ética e da própria justiça social; por outro, tornou-se objeto de livre mercado capitalista de bens e favores religiosos. O número de igrejas e associações de culto são inúmeros e proliferam-se alarmantemente, causando uma forte mistura de credos e concepções que transpõe a ideia de pluralismo, servindo, inclusive, em alguns casos, para a lavagem de dinheiro e ao crime organizado.

Neste panorama complexo, a descrença nos valores e no caráter do ser humano é a medida mais utilizada na sociedade pós moderna, onde os meios de comunicação vertem toda espécie de conteúdo nas consciências valendo-se, por vezes, de atitudes levianas que confundem e alienam as pessoas.

Não se sabe a quem recorrer, no meio do desespero, o individualismo surge como uma carapaça que parece dar a ideia de auto proteção,  outros desistem da vida e a tiram suicidamente. Assim, caminha a humanidade... O mundo está de 'pernas para o ar' ou é impressão minha?